Largo do Arouche: das origens à atualidade
- Stephanie Fazio
- 16 de dez. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 22 de nov. de 2023
A história de José Rendon e suas terras no centro de São Paulo

por André Piloto e Stephanie Fazio
Situado entre as ruas Jaguaribe, Amaral Gurgel, do Arouche e a avenida Duque de Caxias, o Largo do Arouche é uma pequena parte do que restou das terras de José Arouche de Toledo Rendon (1756-1834). A propriedade era uma chácara de chá, que depois foi convertida em um campo de treinamento militar.
Segundo Vicente de Azevedo, em artigo para a Revista da Faculdade de Direito da USP, Rendon nasceu em São Paulo e é filho do mestre de campo do exército Agostinho Delgado Arouche e de Maria Thereza de Araújo Lara, sendo o mais velho de dez irmãos.Casou-se com Maria Thereza Rodrigues de Moraes. Antes do casamento já possuía dois filhos, Diogo Arouche de Moraes Lara e Maria Benedicta. Com a esposa Maria, teve Fortunato Claudino de Annunciação Maia e Ana Margarida Rodrigues de Toledo Arouche, conforme informações da plataforma global de árvores familiares MyHeritage.
Suas sete irmãs eram conhecidas como Meninas da Casa Verde. Versões explicam que o apelido veio da cor da casa onde moravam ou em referência à propriedade agrícola que ficava entre a Freguesia do Ó e Santana. Assim, surgiu o nome do bairro da Casa Verde, de acordo com o site O Estado de S. Paulo.
Segundo dados da plataforma de ensino do Programa de Formação de Professores da USP, aos 18 anos Arouche mudou-se para Coimbra para estudar Direito Civil. Após a conclusão do curso em 1779, retornou à capital paulista, onde trabalhou como advogado, juiz de medições, de órfãos, de terra e como procurador da Coroa Portuguesa. Além da carreira jurídica, tinha posto militar. Ele trabalhou no Estado-Maior como capitão, logo que regressou de Coimbra e subiu patentes até chegar, em 1829, ao posto de Tenente-General.
Em 1822, Arouche atuava como delegado da Câmara Municipal de São Paulo. Enquanto exercia o cargo foi enviado ao Rio de Janeiro, acompanhado por José Bonifácio e Gama Lobo para incentivar o príncipe regente Dom Pedro I a ficar no Brasil, data conhecida como “Dia do Fico”. Meses depois, a Independência foi declarada.
Por sua proximidade com a família real, ele foi nomeado diretor da Faculdade de Direito Largo de São Francisco, em 1827. Exerceu o cargo por seis anos e pediu sua exoneração à Coroa em 1833. Faleceu no ano seguinte aos 68 anos de idade, em São Paulo. Ao longo dos anos, o local foi sendo alterado, inclusive em seu nome. Ainda de acordo com a plataforma da USP, em 1820 a região era conhecida como “Praça da Legião”. Por conta de um lago que existiu no seu interior e foi aterrado no início do século XIX, passou a se chamar “Tanque do Arouche”. Em 1865 o nome mudou para “Campo do Arouche”. No final do século XIX, denominou-se o local “Largo do Arouche”, mas em 1910 parte do Largo teve seu nome substituído para “Praça Alexandre Herculano”. Somente em 1913, todo o espaço voltou a chamar-se “Largo do Arouche”.
Leo Henry, morador da região e dono do restaurante La Casserole, afirma que antes da expansão de São Paulo, “o Centro era a cidade”. Segundo Henry, com o passar dos anos, houve uma descentralização, novos polos emergiram na cidade como: Paulista, Jardins, Pinheiros, Vila Madalena, Morumbi, entre outros. E o Centro passou por um período de esvaziamento e degradação.
Vários artistas escolheram o local para expor suas obras. No início havia 17 monumentos, hoje apenas seis estão em bom estado de conservação. Os bustos de José Augusto Cesar Salgado e Guilherme de Almeida foram roubados, o de José Pedro Leite Cordeiro ficou sem os óculos e no monumento “Amor materno” as orelhas de um dos cachorros estão quebradas. Já as obras Afonso D'escragnolle Taunay, Maria Olenewa, Monumento a Cícero, Placa, Samuel Hanemann e Aureliano Leite não estão mais no local. Moradores da região afirmam que criminosos roubam as obras por conta do metal, segundo informações do site Folha de S.Paulo.
Maria Socorro da Silva, proprietária do WS Restaurante que fica em torno da praça, relata que ao longo dos anos as mudanças foram para pior. “Era muito organizado aqui antes, até 2002 ainda dava para passar na praça, hoje não tem condições. Se bem que eles (os funcionários de limpeza) tentam, arrumam, pintam, limpam todos os dias e colocam vasos, mas quebram tudo.” Ela afirma tentar ignorar os problemas. “Tem que enfrentar todo o dia. Eu tento só não passar no meio da praça. Prefiro passar pela floricultura e dar a volta”. Para Cinthia Saito, moradora da região há 51 anos, a situação da praça é degradante. “A violência em geral, o centro está muito abandonado. O posto policial não inibe a ação dos noias. Aqui têm o pessoal da cracolândia e os moradores de rua, então é muita sujeira.” José Simões, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que por falta de ocupação da praça pela população em geral, a prefeitura deixou de fazer a manutenção.
Já Henry assegura sentir-se mais seguro voltando para a casa à noite no Centro, do que no bairro que morava antes, onde as ruas eram mais vazias, e não havia muito policiamento. Para ele, a praça é bem iluminada. “Especialmente em sua parte central, e mais segura do que pessoas de fora pensam. A conservação poderia ser melhor, mas o preconceito que existe sobre a região é maior do que os problemas reais.”
Em 2017, a prefeitura propôs um projeto de revitalização do local, que foi desenvolvido pela empresa francesa Triptyque. Um dos arquitetos responsáveis, Greg Bousquet, diz que o propósito é criar um ambiente que valorize o pedestre, seja sustentável e que ofereça uma variedade de atividades. De acordo com informações do site O Estado de S. Paulo, o projeto irá demolir o Mercado das Flores antigo e construir um mais moderno, com abertura para os dois lados, o espaço para a circulação do pedestre será ampliado com o nivelamento entre o piso e a rua. Além disso, serão feitos quatro quiosques, sendo um para a administração do Largo com uma horta comunitária; atendimento aos LGBTs; a base da Polícia Militar e o banheiro público.
O Arouche tem bares, lojas e cinemas voltadas para o público LGBT, que não aprova o projeto, pois receia a sua expulsão do local e acredita que a proposta foi pouco participativa. Simões relata que a iniciativa tem pontos negativos, como o excesso de ocupação da praça. “A prefeitura tem vários edifícios espalhados pela cidade, muitos deles estão desocupados. Então, não tem necessidade de você ter na praça um (quiosque) LGBT e um posto da Polícia Militar.” Além disso, o professor de arquitetura afirma que nada foi comentado sobre o destino das estátuas que estão no espaço.
Para Henry, o projeto é bastante moderno, inclusivo e democrático. “Não descaracterizaria particularidades da praça, mas fortaleceria a sua vocação para o convívio e aproveitamento urbano.”
Mesmo com os problemas que a região enfrenta, Maria Socorro não tem vontade de abrir seu restaurante em outro local. “Não quero sair daqui, porque eu amo o Arouche, tenho esperança de tudo ficar como era antes.”

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