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Transformando preconceito em humor

  • Foto do escritor: Stephanie Fazio
    Stephanie Fazio
  • 3 de jul. de 2019
  • 5 min de leitura

Atualizado: 22 de nov. de 2023




Matéria publicada na revista acadêmica Dandaras


Leia o texto na íntegra


Transformando preconceito em humor

Trajetória da atriz Priscila Menucci até à fama


por: Stephanie Fazio


A atriz, modelo e empresária Priscila Menucci, 44, veio me receber no corredor de sua casa, na tarde de 22 de abril deste ano, enquanto tentava acalmar seu cachorro chamado Pretinho, que se agitou com a minha chegada. Na ocasião, estava usando um vestido branco e, com seu humor contagiante, não demorou muito para arrancar meu primeiro sorriso, parando no início da nossa conversa para tomar uma xícara de café.


Portadora de nanismo, com 91cm de altura, superou o preconceito e transformou as brincadeiras maldosas em um aliado para seu trabalho humorístico, e de auxiliar administrativa de RH conquistou as telas e passarelas. Atualmente, é casada com o também ator Leonardo Colen, após 14 anos juntos, vieram os filhos Pedro Henrique, 12, e João Paulo, 7.


A famosa foi criada pela sua avó, seus pais são separados desde que tinha cinco anos. Estudou no colégio particular Conchinha, em São Paulo, até a quarta série. Sua avó conversou com a diretora da escola, para que ela preparasse as crianças para sua chegada, evitando assim que ela sofresse bullying.


Da quarta para a quinta série, foi transferida para uma escola pública, por conta de dificuldades financeiras. “Eu estudei no Capitão Monteiro do Amaral, metade do colégio veio comigo, montamos uma gangue, lascou tudo. Aprontava horrores, era suspensa, baladeira que só”, relata entre risadas. Quando passou para o colegial começou a trabalhar e fez um ano e meio de supletivo no Talles de Mileto.


Da firma à fama


Ela nunca tinha imaginado ficar famosa, na adolescência queria ser pediatra. Anos depois, foi aprovada no vestibular de psicologia, mas com o início dos trabalhos de atuação em 2003 dedicava muito tempo aos ensaios, e acabou desistindo da faculdade. Em entrevista ao portal Uol, Priscila relata que em 2002, uma festa a fantasia na empresa onde trabalhava como auxiliar administrativa mudou o rumo de sua trajetória. Lá, conheceu o anão Zezinho e ele a indicou para uma agência de atores.


Sua carreira de atriz começou com o espetáculo “O Mágico de Oz”. Nos testes o diretor falou: ‘nossa ela é muito pequena para ser pequena’. “Porque eu era a menorzinha de todos e a maioria media 1,30m”. Foi a administradora do projeto Andréia Oliveira, esposa do orientador que pediu para que ela ficasse, e foi um sucesso. Com as apresentações morou quatro meses no Chile, e entre idas e vindas ao Brasil entrou na TV.


A humorista relembrava sua trajetória na televisão, quando seu cachorro a interrompeu, pulando no sofá. Entre 2003 e 2004, estreou com a personagem Mini Ofrásia no programa “A Casa é Sua” (Rede TV!), apresentado por Clodovil. Em 2008, atuou na “Escolinha Muito Louca” (Bandeirantes), contracenando com Sidney Magal. Em 2012, realizou três participações na “Escolinha do Gugu” (Record) e, no mesmo ano, sob o comando do apresentador Gilberto Barros, fez parte da equipe do programa “Sábado Total” (Rede TV!). Ainda nas telinhas, em 2015 realizou seu sonho de atuar em novela, interpretando a jornalista Alegra em “Cúmplices de um Resgate” (SBT).


Segundo matéria do portal Uol, em 2017, ganhou um quadro fixo no humorístico “A Praça é Nossa” (SBT) após beijar Paulinho Gogó (Maurício Manfrini), em uma de suas participações especiais no programa. A partir daí passou a representar Dona Nica, que se irritava com as piadas maldosas sobre sua altura. A personagem marcou sua carreira pela sua força e coragem, e tornou-se peça teatral, “O Show da Dona Nica”. No mesmo ano, ficou em cartaz com o espetáculo “O Banquete”, onde viveu uma stripper: “eu me senti um pouco incomodada, porque o povo acha que eu sou muito sexy, não sou, queria sair correndo”, relembra rindo.


Realizou vários trabalhos como modelo com a fotógrafa Kica de Castro, tanto nas passarelas quanto fotos posadas e ousadas. “A sociedade tem essa visão que o diferente não é belo, a gente prova o contrário, nada que uma boa maquiagem não resolva”, brinca.


Ela também é empresária, dona da produtora de eventos Pituka Produções Artísticas, cujo objetivo é promover uma maior inclusão de pessoas com nanismo em comemorações. “Tentar colocá-las em uma recepção de feira, presença vip, não só uma branca de neve e os sete anões”.


Preconceito


No dia a dia, Priscila ouve muitas piadas na rua. “Toda a vez que eu vou atravessar a avenida e estou de costas, vem gente gritando: ‘cuidado, não deixa a criança atravessar!’, e pega na minha mão. Eu falo vamos me ajuda, e a pessoa fica sem graça, nunca mais vai fazer isso, vai olhar bem antes”. No futuro, essas situações geram histórias engraçadas para o seu trabalho. “As pessoas ainda ficam surpresas quando eu digo que tive dois filhos”. Para ela o preconceito ainda existe porque as informações chegam distorcidas. Em uma frase resume sua maior pretensão: “quero que as pessoas riam comigo, não de mim”. Também é militante das causas de deficientes: “quando há necessidade eu estou à frente na área política ou manifestando para alguma coisa acontecer”.


Na rotina em casa, ela não encontra muitas dificuldades, o ambiente não tem adaptações, pois mora no mesmo local desde criança. Para lavar louça ou pegar algo que esteja alto utiliza um banco, como fez para pegar um copo, ao me oferecer água. Os obstáculos estão na hora de fazer compras: “tenho que mandar fazer meus sapatos, não posso falar quero um salto, número 25. Não tem roupa padronizada para pessoa anã. Eu falo, ué?! Saio pelada na rua?!. Não fico de moletom no sofá, como acham que uma pessoa com deficiência faz”, comenta.


Projetos atuais


Hoje em dia, está se apresentando no espetáculo “Cabaresque”, no Paris 6 Burlesque até o final do ano e provavelmente início do próximo. “Faço uma stripper, mas consigo jogar para o lado do humor”. Atua com a drag Thalita Bombinha, elas já trabalharam em boates LGBT. Ela dá uma sinopse da história da apresentação: “somos vedetes falidas e a gente quer tomar o lugar de outra que continua cantando, atuando, somos atrapalhadas, todas erradas, mas no final fazemos o nosso show”.


Também está participando do projeto da “Banheira” da atriz Luiza Ambiel, nele as duas são repórteres. “A gente faz um fãs contra o convidado, para ele participar também”. Elas estão no programa desde dezembro do ano passado e vão até alguém contratar para ser exibido em emissora ou plataforma digital. “As crianças não podem assistir!”, brinca.


A famosa irá lançar o seu primeiro livro este ano e conta como foi produzido: “são fotos e contos, tem imagens minhas, de amigas e delas eu tiro uma história. Só falta escolher as fotos, os textos já foram”.


No final da conversa, Priscila me apresenta Joventina, sua pequena tartaruga. E deixa uma mensagem para elevar a auto estima das mulheres: “a mídia passa um modelo de que todas tem que ser gostosas, loiras, de 1,90m, eles vendem esse produto que a brasileira não é. Ela é um mulherão, com bundão e toda mesclada. Tem que se aceitar do jeito que é, usar um saltão mesmo gordinha, pequena ou magrela. Colocar uns rebocos na cara e bora para a guerra”, diz empolgada.


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