Uma História Quase Esquecida CAPÍTULO I : O INÍCIO
- Stephanie Fazio
- 25 de jun. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 22 de nov. de 2023
Estávamos nós dois, neste quarto vazio, de mãos dadas, sentindo a calmaria de uma troca de olhares quando, de repente, o céu se fechou e uma brisa forte entrou pela janela. Então vi o seu rosto empalidecer e a sua mão se soltar da minha. Alguns minutos se passaram e senti a pior dor que poderia sentir na vida. Nesse momento eu tive certeza do que tinha acontecido mas, por um instante, não pude aceitar que não teríamos mais nossos momentos de amor e risadas. Então sinto as minhas pernas tremerem, meus olhos não quererem mais fechar, nem mesmo por um milésimo de segundo, e o meu corpo para de reagir. O único movimento que há em mim são as batidas do meu coração que aceleram a cada minuto de angústia. Com essa idade eu sabia que não demoraria para que isso acontecesse, mas eu não queria que fosse tão repentino. É muito difícil passar por esse momento e não relembrar da nossa história, do seu jeito apaixonante de ser. Como você era corajoso… Sempre estava presente para me proteger de tudo. Do frio, dos perigos… O único lugar no mundo em que eu me sentia segura era em seus braços. Desde criança você demonstrou amparo para com todos. Crescemos juntos. Me lembro como se fosse hoje das nossas brincadeiras, do seu jeito carinhoso e de sua grande generosidade. Você, por muito tempo, foi o único amigo que eu tive e também o grande amor da minha vida. — Oi mãe! O que houve? Cadê Papai? — chega Margott assustada, sua filha mais nova, interrompendo seus pensamentos. — Oi querida, seu pai… ele... acabou de partir. Agora ele está... com Deus.— sussurra Sara. — Não! Meu pai não pode ter morrido! Não consegui chegar a tempo para me despedir dele... - exclama a filha inconformada. — Como assim? — diz sua neta Alice, filha de Margott, que acaba de entrar no quarto. — Alice... ele está melhor agora — consola a avó. — Vovó, eu ia contar hoje para ele uma grande notícia e não pude — ela começa a chorar — E ele morreu sem saber que teria um bisneto! — grita desesperada. — O que?... Você está grávida? — questiona Sara emocionada. — Sim, recebi a confirmação hoje pela manhã. Estava voltando do médico com minha mãe quando ligaram do hospital para vir com urgência. — explica Alice entre lágrimas. A senhora se emociona, não consegue conter as lágrimas. Alice, carinhosamente, envolve sua avó em um abraço. Após alguns minutos de silêncio, Sara compartilha suas recordações com elas. — Já tem mais de setenta e cinco anos que vivemos juntos, e o amor que sentimos um pelo outro só se fortaleceu ao longo do tempo. Lembro-me bem do dia em que nos casamos. — Ah! Nosso casamento… Que tarde linda foi aquela… — Meu vestido era maravilhoso, vermelho com fios de ouro. Só usaria aquele vestido com seu avô… — Olha para a sua neta, que a ouve, atenciosa. — Arthur usava um terno branco e gravata dourada. Nos casamos em uma igreja perto do palácio, os raios de sol batiam nos vitrais coloridos e iluminavam o altar. Logo no início do dia, eu estava muito nervosa, não acreditava que me tornaria sua esposa. Só não contava que mais um grande sonho se tornaria realidade no mesmo dia. Assim que a celebração terminou, eu e Arthur saímos da igreja e a chuva de arroz começou a cair sobre nós. No mesmo momento, senti uma pontada muito forte na barriga: minha bolsa estourou. Me assustei e corremos para o hospital. Davi nasceu horas depois. — Nossa, vó, não sabia que meu tio tinha nascido no dia do seu casamento! — Sim, aquele dia foi incrível! Nunca tinha visto Arthur tão feliz! Quando Margott nasceu, ele fez questão de escolher o nome dela, disse que significava pérola, um ser iluminado. Como ele era inteligente, um bom conhecedor de tudo… Desde o primeiro dia que eu o vi, sabia que era especial… 84 anos antes… Sara estava em um banquete em casa, preparado em comemoração à vitória de sua ilha, Tuvalu, que acabara de vencer a vila de Blenheim, que até então dominava a maior parte do território da Nova Zelândia, ao desrespeitar o acordo de Paz com a ilha, invadindo-a, o governo de Tuvalu não teve outra opção senão guerrear. Essa foi uma batalha que se estendeu por um longo tempo. Muitas vidas foram perdidas, até que, em um ataque surpresa de Tuvalu, a ilha conseguiu derrotar Blenheim e restabeleceu a harmonia do território. O pai de Sara, Antonie Evans, o Rei, convida para esse jantar a família Bourbon, que fazia a nova segurança do palácio; a família real Morgan, da Nova Zelândia; seus amigos de longa data e aliados na batalha; e toda a corte para o grandioso evento. Assim que os Bourbon chegaram, o Rei os apresentou à sua esposa, Rainha Rose Evans, sua filha Sara e seu filho mais novo Allan. — Rose, Sara, Allan, este é Jackson e sua família.- diz Antonie. - Jackson, essa é minha família. — Boa noite, Senhora Evans, crianças… Esta é minha esposa Margaret — responde Jackson. — Sejam bem vindos ao nosso reino! - acrescenta a Rainha Rose. — Obrigado, Majestade! — E esse é Arthur, meu filho... — apresenta Jackson. — Que, aliás… — diz o Rei o interrompendo — vocês aparentam ter a mesma idade. — comenta enquanto olha para sua filha — Por que você não mostra o castelo ao Arthur, Sara? As duas crianças tímidas foram andando. O pequeno garoto loiro de olhos azuis mexe nos longos cachos morenos da princesa, que sorri contida, porém não se afasta de Arthur e o permite continuar. Quase não se ouvia suas vozes conversando, mas essa timidez durou pouco: logo começaram a pregar peças um no outro e a correr sem rumo pelos corredores do castelo. E foi assim que começou essa história de amor, com uma amizade com muitas brincadeiras e gargalhadas que não acabavam mais. Um ano depois, no dia do aniversário de sete anos da princesa Sara, sua família fez uma festa luxuosa, convidando todos os que conheciam. Ricas e coloridas decorações pelo salão principal, doces e diversão por todo lado e muitas crianças fantasiadas pulando e dançando. Quando Arthur chegou, vestido de seu personagem preferido, Charles Chaplin, foi direto na direção de Sara, que usava um belo vestido em homenagem à sua atriz favorita, Helen Hayes. O mocinho aparenta esconder algo. — Oi, Sara. — Ah, oi — ela responde com a boca cheia e o rosto todo sujo de doces. — Parabéns… — O que você está escondendo, Art? — pergunta a princesa, curiosa. — Não é nada. — ele responde rindo. — Vamos! Mostre logo! — exclama Sara, impaciente. Então o garoto entrega à aniversariante seu presente. — Aqui está! Vamos! Abra! — diz Arthur, animado. A garota já não aguentando mais a sua curiosidade, pega a pequena caixa e a desembrulha rapidamente. E se surpreende ao ver uma bela jóia. — Nossa, que colar lindo! — diz, admirada. — Você gostou? Fui eu que ajudei minha mãe a escolher. — acrescenta Arthur. — Sim, muito! Obrigada! — diz enquanto coloca o colar. — Não foi nada. Quero que você use ele o tempo todo, tá bem? — Mas é claro que eu não o tirarei um segundo do meu pescoço, ele é tão brilhante! A partir de então, a pequena Sara jamais tirou sua corrente do pescoço. Até o dia em que foi ameaçada e…. Mas, ora, leitor, não vamos adiantar a história, tenho muita coisa para compartilhar contigo. Dois anos se passaram, a princesa Sara estava muito animada para a maior celebração da ilha: a festa de início da primavera. Mas a Rainha Rose não concordava com as ideias da filha. — Eu já lhe disse que não! — disse a rainha irritada. — Mas mãe… — Nada de mais, lá é muito perigoso para uma menina… UMA PRINCESA de nove anos... — Rose tenta se acalmar — Minha querida, sempre lhe dizemos que a realeza é feita do seu povo, e que devemos ser o mais próximos possível deles, mas estamos em um momento complicado aqui, nosso reino acabou de sofrer outra invasão de Blenheim... — Eu serei cuidadosa. Prometo. E a ama Helena pode ir comigo. Por favor, mamãe? — Ah Sara, como você é persistente... — disse a mãe se sentindo derrotada pela filha. — Tudo bem, você pode ir à festa — completa depois de um instante. — Obrigada mamãe! — diz Sara pulando de alegria. — Vá chamar Helena... Sara começa a se arrumar para a festa. Coloca um vestido simples florido com uma sapatilha da sua cor favorita, vermelho, e um laço no cabelo. Quando chega, fica tão encantada com o que vê que seus olhos chegam a brilhar. Há flores por todos os lados, pessoas dançando e se divertindo, e os raios de sol deixam aquela visão ainda mais mágica. — Ama, eu posso dançar ali também? — Sara, querida, sua mãe me deu ordens para não deixar você ir longe. — Mas é logo ali — diz a princesa apontando para uma roda de pessoas. — Está bem! Mas não é para ir longe. — Obrigada, ama! O tempo passa enquanto a princesa se diverte, e, sem perceber, a multidão a afasta cada vez mais, levando-a para uma área mais vazia. Sua ama sai à sua procura, gritando seu nome. — Você viu a princesa Sara ? — diz a ama desesperada. — Não. — responde o guarda ocupado. Helena continua sua procura gritando o nome da princesa, mas Sara está dançando muito longe para ouvir. E nesta noite, que tinha tudo para ser mágica para nossa princesa, se transforma em um verdadeiro pesadelo. Sara, que estava dançando alegremente, é empurrada pela multidão de pessoas e cai no chão. Ao cair ela bate a cabeça, ficando, no mesmo instante, inconsciente. — Ah, meu Deus! — exclamou um homem tentando ajudar ao ver a menina desmaiada no chão, sem a reconhecer — Alguém me ajude! — Precisamos procurar a família dessa menina — diz um senhor que acompanhava a cena, que também não imaginava se tratar da princesa. Mais uma senhora, que observou de longe tudo acontecer, sai apressada pela multidão, empurrando quem está na sua frente. — Saiam da frente! — Diz essa senhora sem paciência. A senhora de cabelos brancos, olhos arregalados, com uma aparência horrenda e interessada em Sara desde o momento que a viu, ao perceber que ela estava sozinha, não deixa passar a oportunidade e corre até chegar à garota caída no chão. Todos em volta se mostram preocupados, e se assustam com a chegada da mulher. Ela está nervosa e, com agressividade, se aproxima… — A família dela está aqui! — fala a senhora, quase gritando — Ah, meu Deus! Minha querida Sofia… — diz estranhamente, agitada demais. — Estava muito preocupada, você sumiu. Então a pega no colo — Eu cuidarei de você…. CONTINUA...

Primeiro capítulo do romance Uma história quase esquecida, produzido por Daniela Golfeto, Letícia Maria e Stephanie Fazio.
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