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Rompimento das fronteiras de gênero e expressão

Atualizado: 1 de jun. de 2021

Saiba como a moda agênero é pensada e veja tendências


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Reprodução: Audaces

Cores, padrões de modelagem e divisão de departamentos se tornaram termos falhos para atribuir uma peça de roupa como adequada ou não para uma pessoa. “Essa tendência vai além das cores de passarela ou formas”, diz Emerson Brandão Figueiredo, sócio da marca de roupas Cëjuntos.


Na moda agênero ou sem gênero (genderless, no original em inglês) o consumidor decide, de acordo com a sua personalidade, se uma peça lhe cai bem e se ele deve ou não usá-la. “Apenas a sua vontade de usar a roupa deve influenciar a decisão de compra, e não a cultura pré-estipulada do que um homem ou uma mulher devem vestir”, conforme o portal Audaces. “A moda sem gênero enxerga todos como igual. Dentro dela são pensadas as pessoas trans e não binárias, que merecem atenção igual a todos”, diz Figueiredo.

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Ianarã Bernardino, designer de moda/Acervo pessoal

O designer de moda, estilista e influenciador digital Ianarã Bernardino conta que no seu caso houve uma construção de estilo no consumo. “Por amar e acompanhar o mundo da moda, nunca foi algo fora da minha realidade ver, por exemplo, homens com roupas femininas e mulheres com roupas masculinas. O agênero veio como uma evolução dessas questões”, diz.

Agênero ou unissex?

Os termos agênero e unissex são muitas vezes confundidos ou utilizados de forma inadequada. Gilmara Morelli, sócia da marca de roupas Labella Soberana, explica as diferenças entre as duas definições: “A maneira mais fácil de explicar seria com o exemplo de um salão de cabeleireiros, onde o unisex em sua fachada quer dizer que ele corta tanto do sexo masculino como feminino. Já no agênero, não existe essa definição, a pessoa escolhe o que ela quer ser e como ela se sente melhor sendo ela mesma”.


Segundo Bernardino, não há tanta diferença entre denominações, contudo, há uma evolução do pensamento. Ele relembra que o conceito de unissex ficou bastante popular nos anos 70, era uma moda pensada para o masculino e feminino, questionando a divisão de gêneros da sociedade. “O agênero, hoje em dia, evoluiu as questões do unissex e as tornou mais inclusivas, buscando quebrar completamente essa noção de binaridade de gênero. É a moda que, em tese, é pensada para todxs (sic): cisgênero, transgêneros, andróginos, não binários, entre outros”, explica.


Francisco Manoel Santinho, sócio da Cëjuntos, informa que o público da marca é bem diverso, adquirindo peças desde estampas coloridas e vibrantes até looks neutros e monocromáticos. Ele conta que as peças mais procuradas são as saias, em especial por homens, e as calças, por mulheres. Já na loja Labella Soberana, as peças mais coloridas e estampadas são as mais requisitadas, segundo Gian Carlo Morelli, sócio.

Reflexo da Representatividade

Em 2016, a marca Zara lançou sua primeira coleção agênero, com peças que poderiam ser usadas tanto por mulheres quanto por homens, mas os modelos simples, lisos e que pareciam adaptações do guarda-roupa masculino não agradaram muito os internautas, segundo a revista Capricho.


Modelos da coleção agênero da Zara em 2016

A questão da divisão das roupas por departamentos nas lojas também gera discussão. Para Santinho, ainda vivemos em uma sociedade dividida entre homem e mulher, azul e rosa e as lojas reproduzem isso. “A roupa deve ser usada por quem quiser usá-la. E essa divisão dificulta a normalização do uso das peças. Precisamos nos desprender dessa separação para buscar a real liberdade no vestir”, reflete.

Gilmara relata que, logisticamente no conceito interno da loja, a separação por departamentos torna mais simples a localização dos clientes na loja. “Mas infelizmente, nos dias de hoje, o conceito de agênero não é tão difundido como deveria”, afirma.


Bernardino comenta que sempre achou mais interessante passear por todas as sessões de departamentos para comprar roupas do que se limitar a apenas uma parte das lojas. “Ignorava completamente a separação de gêneros e idades. Meu pensamento era: a roupa coube em mim? Eu gostei? Então vou usar. Isso amplia a sua forma de expressar a sua individualidade”, argumenta.

Recentemente, no BBB 21, Fiuk inspirou muitas pessoas exibindo vestidos, calças coloridas, entre outros looks. A partir do programa, a marca C&A lançou sua segunda coleção agênero. Segundo Figueiredo, houve grande divulgação das peças e a mídia começou a discutir e viabilizar mais o tema, porém a moda sem gênero busca ser uma forma de expressão e de identidade.


“Tenho minhas reservas de como a moda agênero é vendida e desenvolvida pelas marcas hoje. Mas creio que usar vestidos, saias e peças com modelagem mais reta e longe do corpo se encaixam nessa categoria e, são elementos que uso bastante”, relata Bernardino. Ele comenta que veste muitas peças da Marca Fala e da Cëjuntos, mas percebe que peças da Fckt Clothing e os sapatos da Nastra também são bastante inclusivos.


Para Figueiredo, esse estilo cresce cada dia mais, com isso, as maiores tendências são o consumo consciente, a valorização das pequenas empresas e a reeducação do consumo.


“Cada vez as pessoas vão se sentir mais livres para se expressar, aos poucos, certos paradigmas vão ser quebrados e, com isso, a tendência de roupas agênero, conjunto para casais, roupas coloridas serão mais utilizadas”, aponta Gilmara.


Iniciativas de sucesso


Os sócios da marca Cëjuntos, Emerson Brandão Figueiredo e Francisco Manoel Santinho, revelam que foi pensando nas diferenças entre seus corpos que surgiu a ideia de fazer peças de tamanho único, assim surgiu a “Cë”. “Esse nascimento foi em 2016 e começamos a vender no final do mesmo ano. Como queríamos produzir saia, pensamos que a roupa é uma expressão e ela independe do sexo biológico da pessoa. Foi assim que começamos a criar peças sem gênero”, conta Santinho.

Na marca Labella Soberana, as vendas iniciaram em 2020, a ideia surgiu quando os sócios Gilmara Morelli e Gian Carlo Morelli começaram a montar o plano de negócios. "Queríamos abrir nossa loja, porém com algo diferente, que pudesse sair do tradicional, fizemos a pesquisa de mercado e quando estávamos neste processo um amigo nosso sofreu um preconceito com a roupa que ele usava, e nós decidimos desse ponto abraçar a comunidade e trabalhar com peças sem gênero”, relembra Gilmara.


A saia Cë, é o clássico da marca, conforme Figueiredo. A peça foi pensada para todos os corpos e caiu no gosto dos clientes. “Nossa inspiração é na indumentária oriental e na alfaiataria ocidental”, menciona. Ele complementa que a marca traz sempre essas inspirações em suas peças, por trabalhar exclusivamente com tecido plano.


Divulgação: Cëjuntos


“O nosso maior sucesso foi acertar no desenvolvimento do material, testamos vários tecidos até encontrar um ideal. Com o apoio de Pedro Gicca, [vencedor do Mister Global 2017, concurso de beleza que teve a edição sediada na Tailândia], conseguimos alavancar super bem nossa marca”, diz Gian.

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