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O legado de Glee do ponto de vista de uma fã

Um depoimento de coração aberto sobre a série que mudou minha vida


por Letícia Remonte



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Elenco de Glee na primeira temporada da série. Reprodução: Vogue


Muito se fala sobre o legado da série Glee, ou pior, “a maldição de Glee”, que apenas leva em conta os tristes acontecimentos com o elenco e descarta diversas outras coisas que envolvem o que de fato é Glee para um fã. Agora, vocês poderão saber o porquê Glee é tão importante na vida dos gleeks.


Fui uma criança que sempre sonhou em cantar. Meus ídolos de infância eram Sandy, Anahí e, claro, todas as divas pop americanas. Fazia shows para meu familiares e amigos, usava o sofá como palco e a escova de cabelo como microfone. A música sempre esteve presente em mim, desde quando ainda nem podia entender isso. Eu cantava - e ainda canto - o tempo todo, fazendo qualquer atividade.


Somada à menina sonhadora, havia também uma menina tímida, que conforme foi crescendo, foi sofrendo bullying no colégio, cada dia mais. Durante o ensino fundamental, as “brincadeiras” dos colegas de classe eram diárias, tudo era motivo para me humilharem: meu cabelo, meu peso, o fato de eu usar óculos, aparelho nos dentes… inclusive, o fato de eu cantar a todo tempo. Isso me distanciou de mim. Eu fiquei apática, ainda mais fechada, sem nenhuma perspectiva do que fazer no futuro e, muitas vezes, sozinha. Tive sim grandes amigas nessa época, mas passei a desconfiar de quem estava ao meu lado e me isolei, para evitar sofrimento.


Glee entra na minha história em 2013. Foi um período de mudança, troquei de colégio e conheci pessoas incríveis, ficava pensando o quanto gostaria de me aproximar delas e fazer amizades, mas travava. Tinha muitos traumas e minha auto estima era baixa demais para me dar coragem. Minha sorte foi que essas pessoas vieram até mim! Comecei a fazer novos amigos, mas ainda me sentia uma estranha no ninho.


Já havia assistido a alguns episódios de Glee com meu pai - que também ama música - mas sempre pegava já começado, ou então, episódios soltos na Fox. Até que, um dia, me lembrei da versão da série de “Don’t Stop Believing” e decidi parar para assistir, o que foi um milagre, já que sempre tive um pouco de preguiça de acompanhar seriados longos.


Já nos primeiros episódios, consegui reconhecer características minhas em quase todos os personagens. Quando o Glee Club se juntava e eu os assistia performar, parecia que estava acolhida! Todos os personagens erravam. E isso fazia com que eu me encantasse ainda mais por eles. A Rachel também cantava com uma escova de cabelo! Pequenos detalhes como esse, faziam com que eu pudesse me identificar, mesmo que minimamente, com quase todos os personagens. Estava no meio da segunda temporada quando recebi a notícia do falecimento de Cory Monteith. O protagonista se foi em 13 de julho daquele mesmo ano, deixando um buraco enorme no coração de quem amava o Finn como um amigo próximo.


Depois de Glee, eu passei a ter mais confiança. Ainda sou tímida e tenho minhas crises de auto estima, mas costumo dizer uma frase que define o poder da série em quem sou: “Através de Glee, eu descobri que tinha um lugar no mundo para mim”. Tive um Glee Club na vida real. Não era um coral e sim um grupo de teatro, mas ali realizei muitos sonhos e fiz amizades eternas, assim como os personagens nas aulas do Mr. Schue. A cada sexta-feira, dia em que ensaiávamos no teatro, a famosa frase da Rachel fazia mais sentido: “fazer parte de algo especial, te torna especial”.


Até hoje, se me sinto triste ou até mesmo entediada, recorro a alguns episódios de Glee. Geralmente os da segunda e terceira temporada, minhas favoritas. Sei falas de cor e músicas, nem se fala. Amo todos os personagens, mas meus favoritos sempre foram Santana e Artie. Inclusive, usei por muito tempo uma foto de Naya Rivera e Kevin McHale como capa do meu facebook, bem fãzona mesmo.







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Kevin e Naya na foto que foi capa do meu Facebook. Reprodução: Instagram (@kevinmchale)


Lá em 2013, não poderia imaginar que uma série de tv seria tão importante para mim. Glee retratou muito mais do que os “underdogs”, como o diretor Ryan Murphy gostava de dizer. Foi a primeira série mainstream a ter um casal lésbico entre os personagens de forma tão aberta, além de incluir entre os protagonistas (e vilões!) personagens PCD. Além disso, foram abordados temas como homofobia, suicídio, gravidez na adolescência, transtornos alimentares, xenofobia e racismo.


Minha vida é dividida antes e depois de Glee. Ano passado, após a tragédia com Naya, de quem sou extremamente fã, li uma reportagem no site Omelete, em que o jornalista Henrique Haddefinir diz palavras lindas que são tudo o que eu queria dizer. Finalizo esse texto com elas, ressaltando que Glee é mais do que todas as polêmicas e tragédias que cercam os atores. Mudou minha vida e mudou a vida de muitas outras pessoas ao redor do mundo. E mostrou que sonhos podem sim se tornar realidade, é só não deixar de acreditar. Don’t stop believing.


“De todas as palavras que poderiam descrever Glee, a palavra “maldição” seria a última delas. Ao falar sobre o underdog, sobre o oprimido, a série confortou fãs ao redor do globo e reeducou não só seus espectadores como a própria mídia acerca de muitos assuntos relevantes para o tópico da diversidade. Imagem corporal, transgênero, orientação sexual, racismo... Glee tinha um dançarino na cadeira de rodas, uma vilã com Síndrome de Down e mais uma lista respeitável de situações em que os limites eram desafios e não o fim da linha. Além de tudo, a qualidade musical fazia pelo público outro pequeno milagre: tornava tudo divertido. Isso parece uma maldição para você? O que Glee tem é uma história de benfeitorias, proporcionadas por uma equipe e um elenco que passa por tragédias e pesares como qualquer um de nós. Glee não deixou uma maldição. Glee deixou um legado de afeto e qualquer membro do elenco que se vá, só poderá nos deixar saudades." - Henrique Haddefinir, para o site Omelete.


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